Em 1994, no ano em que moramos em Guarapuava, minha mãe e meu irmão mais novo trouxeram uma gata para casa. Batizada de Mitch. Ou Mitchó. Ou Titchó. Ou Tió. Ou Gato (no masculino assim mesmo). Ela atendia por qualquer nome que a chamassem, parecia.
Eu tinha 15 anos, foi o ano do meu primeiro beijo, o ano em que 4 Non Blondes estourou nas rádios com What's Up e o ano que meu pai se aposentou, acabando com as mudanças de cidade que eram mais ou menos comuns até então.
Nesse ano, recebemos a visita do Tio Lalau, de Londrina, irmão da minha mãe... do meu irmão mais velho, que já morava em Maringá... da minha tia-avó de Curitiba...
Foi o ano da mudança de moeda, eu lembro que estava em Curitiba com minha mãe e ela foi ao banco trocar os vários milhares de Cruzeiros da carteira. Trocou por 26 reais e 17 centavos PENSA.
De Guarapuava, mudamos para Maringá. Minha avó, que morava conosco, morreu em fevereiro de 1997. Pouco tempo depois, veio o meu outing semi-obrigatório, quando descobriram correspondências que eu tinha com um "amigo especial" de Curitiba (um beijo para você, Marcelo Luís *-*). Houve muito choro, muita culpa, muita acusação, muita coisa que merece um post só sobre o assunto, enfim.
Meu irmão mais velho se casou no mesmo ano, em setembro. Um mês depois, fizemos a última mudança enquanto família, de uma casa enorme no Cidade Nova para um apartamento modesto na Zona 7.
Em 2007 morreu o Tio Lalau, que havia nos visitado em Guarapuava em 94. Meu irmão mais novo saiu de casa. Em 2009 eu saí de casa e fui morar numa kitchenette.
Em 2010 me mudo de Maringá para cá; meus pais se separam no mesmo ano.
E em casa ficam apenas minha mãe, a Mitch e um segundo gato, que tinha sido abandonado na porta do meu trabalho em 2008 e eu morri de dó de deixar o pequenino à sorte.
E hoje, pouco antes do meio-dia, Mitch, a gata, se foi. Com quase 18 anos, finalmente descansou. Já estava sem dentes e meio cega, ficava vários dias sem comer e não pesava nem 2kg. Seus ossinhos e articulações já eram cansados demais. Ama nemes harcot megharcoltam...
Ela viu tudo o que aconteceu com nossa família. Uma companhia silenciosa e constante, 18 anos sendo o sétimo membro da família.
Pensei muito em minha mãe. Sem os filhos em casa, sem o ex-marido. E agora sem a Tió.
[Não, não vou chorar.]
[Tarde demais.]