sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Das obrigações de Natal: demonstrar que gosta e se importa com o pai, mesmo que não seja exatamente uma verdade.

Meu pai e eu nunca fomos próximos, em nenhum momento desse período de três décadas que costumo chamar de vida. Não sei exatamente por qual motivo. Sei que meu irmão mais velho sempre foi (e ainda é) o mais apegado ao pai e eu e meu irmão mais novo somos mais íntimos e afetivos com nossa mãe.

Mas eu sempre respeitei meu pai, porque ele era um exemplo de honestidade sem máculas, daquele tipo que volta ao mercado para devolver R$5,00 a mais que o caixa eventualmente lhe devolveu de troco. Daquele tipo que, apesar de conhecer o capitão do Tiro de Guerra, não é capaz de dizer 'olha, meu filho vai se alistar, dá um jeito de ele não servir', simplesmente por ser honesto e não querer descumprir com os critérios já estabelecidos para o alistamento militar.

Aí com o tempo a família descobre que ele não era esse exemplo todo de honestidade no relacionamento com minha mãe. Um dos poucos motivos de admiração que eu tinha desmorona e ele passa a ser um homem normal às minhas vistas.

Não o odeio. Mas ele é isso aí: normal. Ele tem se esforçado para ser próximo dos filhos, especialmente depois da separação dele e da minha mãe. Mas sabe quando você não consegue, por mais que tente, ser íntimo de alguém assim, do nada? Laço de consanguinidade definitivamente não diz lá muita coisa nesses assuntos de família; se pensar bem, nem o mesmo tipo de sangue nós temos (eita que senso comum mais besta, Juliano).

E aí vem o Natal, época dos perdões e amor nos corações e tudo isso. E a obrigação de me encontrar com meu pai, já que afinal foi ele quem me ligou para convidar para jantar fora, foi ele quem me adiantou uma grana quando eu estava precisando desesperadamente há dois meses e foi ele quem sempre forneceu conforto material durante toda minha vida.

No próximo post conto a vocês como foi o encontro. Não chego a estar ansioso ou irritado. E o jantar vai ser numa churrascaria bacana e ele já deixou claro que filho dele nunca vai pagar a conta quando ele estiver junto. Pelo menos vai valer pela boca livre.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

"O o o o o" "O GRINCH!" [Ou um auto-retrato meu]

Ontem, durante a mensagem ecumênica + auto de natal no meu trabalho, confesso que fiquei pensando no quanto a história que deu origem ao cristianismo é épica. Tem elementos das melhores tramas, é cativante e você fica realmente comovido com algumas das cenas.


Um povo oprimido por um governante de outra nacionalidade, sem autonomia política, pagando impostos e tendo que fazer coisas sem lógica apenas para satisfazer um capricho do imperador, como viajar nãoseiquantos quilômetros com uma esposa grávida só para ser recenseado. Aí a esposa entra em trabalho de parto e por falta de lugar para se hospedar, acaba parindo o filho entre animais.

(Não vou entrar aqui no mérito das questões de fé, como a concepção virgem e a anunciação, minha intenção não é discutir religião em si. Mas sim, imaginem o quanto José deve ter sido chamado de corno por aceitar casar com uma mulher já grávida)

Sim, a história é emocionante e envolvente. Aí beleza, teve as mensagens dos pregadores de três religiões diferentes, teve o auto de natal...

E AÍ COMEÇOU A DEMAGOGIA DE DIZEREM QUE "AQUI NO TRABALHO SOMOS UMA GRANDE FAMÍLIA"

Olha, sabe quando você observa uma gravura LINDA de morrer e de repente parece que alguém pegou uma caneta e riscou bem na cara de alguma das pessoas retratadas? Então.

Não, por favor. Trabalho é trabalho, família é família. Amigos são amigos. Você pode até trabalhar com pessoas da sua família, se tornar amigo de algum colega de trabalho ou um amigo seu pode vir a ser parte da sua família. Mas não. Esse conceito de "aqui é uma família" está muito equivocado.

Estragaram uma das poucas chances de eu me sentir novamente à vontade com mensagens de Natal, obrigado.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Esta semana meu terapeuta me sugeriu que fizesse um teste: organizar a rotina diária por pelo menos 7 dias, de forma que eu faça tudo o que eu preciso fazer. Exercícios físicos regulares, alimentação equilibrada, horas suficientes de sono à noite, redução de estresse...

De sexta para sábado dormi 4h. De sábado para domingo, 5h. Ontem era para ter começado a caminhar. Não fiz almoço em casa (embora no restaurante tenha enchido meus estômagos de folhas e grelhados e nada de carboidrato).

Comecei muito bem a cumprir com a tarefa, vaidizê.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

É um duro combate esse de lutar contra os hábitos tão cimentados no nosso repertório. Mudar hábitos normalmente é uma troca entre a satisfação de um prazer imediato, momentâneo, por um igualmente momentâneo desprazer. Pelo menos na hora do esforço de mudança de comportamento, sobrevem o desgosto, mesmo que depois você se dê conta de que a troca de um hábito por outro (ou pelo silêncio/não-ação) foi saudável para si mesmo e para a sua relação com os outros.

Essa semana, em uma mesa de bar, três pessoas conversávamos. Aconteceu de os três estarmos empolgados planejando uma viagem para o próximo ano e para um lugar que eu já fui e tenho, modestamente, bastante conhecimento. Eis que, no auge da minha empolgação, fui atravessado por um dos interlocutores, que passou a requerer para si o holofote. Com um assunto completamente alheio ao que tratávamos, o que ficou parecendo aquele arranhado da agulha do toca-discos sobre o LP, quando da troca por outro disco.

Optei por me calar, em vez de fazer o que normalmente eu faria: aumentar a voz e dizer "ENTÃO, COMO EU ESTAVA DIZENDO..."

Tive a atenção da plateia abruptamente arrancada. Na hora, o que me veio à cabeça é: será que só eu achava que estava agradando e na verdade não estava e eu sou apenas um chato repetitivo? Preferi não competir por atenção. Vou ter momentos oportunos para voltar ao assunto e para ser laureado pelos outros pelo meu savoir-faire.

Mas confesso que fiquei magoadinho. Mágoa de histérico, sabem? Aquela que dá vontade de fazer um bico e não mais me pronunciar pelo resto da noite. Mesmo a mágoa passou e agora eu sei que calar-me foi a melhor opção. Qual seria meu troféu, caso eu "ganhasse" a atenção dos interlocutores? Nada muito edificante, de todo jeito...

Estarei finalmente amadurecendo? Tomara, tenho 32 anos e uma hora isso tem que acontecer. Fiquem atentos para mais bons comportamentos meus.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Neste fim de semana me lembrei de quando voltamos da Bahia para o Paraná, para morar por um ano em Guarapuava.

Mais de 2.500km em um carro com pai+mãe+avó+irmão+eu e chegamos naquele lugar desconhecido. A cidade ainda tem um ar de província, com uma pequena área no centro que ainda preserva o casario da época que o lugar era uma parada de tropeiros, ruas de paralelepípedo, uma igreja matriz com toda a pompa colonial de ser uma imitação muito exagerada (beirando o cafona) da catedral na capital, as feições das pessoas que lembram uma vila da Europa Oriental. Tudo muito diferente da árida Chapada Diamantina, onde eu tinha morado os três anos anteriores.

Vista da Igreja Matriz de Guarapuava

Construção do século 19, centro de Guarapuava.

E exatamente no dia da chegada, tive uma das minhas muitas manifestações de enjoo. Enquanto todo mundo foi para a casa nova, apreciar o que eu considero como o lugar mais aconchegante que eu já morei e correr atrás de prepará-la para a chegada da mudança, fiquei trancado no quarto do hotel, esverdeado, vomitando o que não tinha mais no estômago.


Acho que meu corpo nunca lidou bem com mudanças. Talvez eu só vá ter tranquilidade quando eu puder nunca mais passar por surpresas na vida.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Vamos falar em morte? Sem tristezas nem preconceitos?

Seguinte: com o avanço dos anos, é lógico que cada um de nós está mais próximo, pelo menos estatisticamente, do fim da vida. E por mais que seja um tabu, uma dor, uma ferida, uma perda etc., a morte é *ATENÇÃO PARA O CLICHÊ DOS CLICHÊS* realmente a única certeza que qualquer ser humano pode ter a respeito da sua vida.

(Clichês existem e sim, muitos deles são verdadeiros. Me processem)

Enfim, por mais que nós, assim como alguns personagens míticos modernos das sagas O Senhor dos Anéis e Harry Potter, tentemos enganar a morte, um dia ela vem. E por que não pensar nela antes que aconteça?

O fato é que, devido a algumas condições de saúde pelas quais passei esse ano, tenho me percebido bem interessado no assunto. Encontrei alguns sites de planos funerários e fiquei intrigado (e confesso que até achei divertido) com a chuva de eufemismos para lidar com o assunto. Tais como:

"Plano de vida" em vez de plano de assistência funerária

"Local de descanso final" em vez de cemitério, urnário, ossário etc.

"Salão de despedida" em vez de capela ou salão mortuário

Além dos eufemismos, achei engraçados alguns termos e conceitos, tipo a lanchonete de um cemitério de Goiânia, batizada de "Café com Orquídeas". E este cemitério, é lógico, nem é chamado de cemitério, no site você encontra o termo "Complexo de Cerimoniais".

Como se quisessem maquiar a morte. Belos jardins à beira de um lago no centro do "complexo", vários pequenos quiosques pergolados com flores trepadeiras fazendo sombra, quase uma visão de um jardim inglês do século 19. As recepções das salas de velório parecem mais com consultórios de clínicas de beleza, com muito mármore e granito, não daqueles escuros, encontrados em cemitérios tradicionais, mas pedras brancas, bem polidas, carrara, travertino e similares.

Eu diria até que é quase como se quisessem que os familiares, amigos e eventuais puxa-sacos do morto pudessem passar uma agradável tarde em um SPA urbano, tomando chá com petit-four no jardim de inverno, debaixo do pergolado à beira do lago.

Não que a dureza e a tristeza da morte devam ser enaltecidas. Mas não acho de bom tom esse faz-de-conta que o morto só está repousando numa bela campina.