quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Comida

Fui criado pela minha avó. Meus pais trabalharam fora de casa até o final da minha adolescência e nesses quase 20 anos foi minha avó materna quem assumiu a incumbência de fazer de mim quem eu sou. Coitada, me fez desse jeito que vocês conhecem.


Minha abuelita era filha de espanhóis. Gente mediterrânea, assim como gregos, italianos, turcos, hebreus, palestinos e norte-africanos. E como tal, a comida tem especial importância na vida prática, nas relações humanas e na forma de lidar com os sentimentos. Há uma piada étnica que diz que judeus pensam, até os sete anos de idade, que seu nome é Coma Isso, pois essa é a frase que mais se ouve em um lar judaico... crianças gregas e mouras também sofrem desse bullying alimentar.


Voltando à minha avó: sempre suspeitei que ela cozinhava para não ter que expressar os sentimentos dela. A vida difícil de mulher "desquitada" nos anos 1950 a tornou uma pessoa dura, sem crença no ser humano; por outro lado, uma excelente cozinheira. Não deve ser aleatória essa coincidência. Lembro bem de vezes em que ela chegava e me perguntava o porquê da minha cara aburrida... sem saber muito o que dizer, ela fazia alguma torta recheada de carinho, capaz de conter lágrimas e aquecer corações.

Eventualmente, percebo que passo horas planejando o que vou cozinhar, dia a dia. Qual vai ser o dia de fazer feijão, quantas vezes farei frango na semana, qual é o dia de não comer carne... coincidentemente, nesses períodos é quando me percebo mais fugidio, mais esquivo de mim mesmo. "Cabeza vacía, oficina del Diablo", então tratemos de ocupar a mente e os dias. Com comida.

4 comentários:

  1. Deu fominha - não sei se de abraço ou de comida (no sentido alimento) mesmo. Se bem que... Depois do que você disse, é tudo quase a mesma coisa.

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  2. prfvr se chateie e me chama pra almoçar na sua casa. Obrigada

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  3. olá... adorei seu blog, vc é homem ou mulher?

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